quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Hoje quero refletir aqui sobre três assuntos que mantém estreita relação entre si.

Primeiro: ontem saiu a notícia da morte de um certo Coronel Erasmo Dias, aos 85 anos, de câncer. Postei no Blog do Nassif o seguinte comentário:

"Pois é… Mais um que morre sem prestar contas por seus mandos e desmandos. Caberá ao diabo criar o tribunal de exceção para julgar os crimes da ditadura?"

Recebi dele a seguinte resposta:

"A não ser o abuso da invasão da PUC, nunca vi seu nome associado a torturas. No fundo era um falastrão, que parava o trânsito de madrugada apenas para se exibir para namoradas."

Depois, Mário Siqueira postou também o seguinte:

"Falastrão, Nassif ?
Ele foi Secretário da Segurança Pública de 1974 a 1979.
Nesse período morreram em SP, na prisão, entre outros, Wladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, só para lembrar os mais conhecidos."

Depois, em outro comentário, alguém também lembrou que o Cel. Erasmo Dias aproveitou-se do cargo para conseguir que o IML de São Paulo "legalizasse" as mortes ocorridas nos cárceres da tortura.

Eu, muito particularmente, guardo em algum canto seguro uma caixa de foguetes. De vez em quando um deles pipoca. Mas eu confesso que, antes de todos os meus foguetes pipocarem, gostaria de ver todos os cúmplices da ditadura empresarial-militar responderem por seus atos. E sigo repetindo as histórias por aí, porque o esquecimento é a arma com que contam os covardes para ficarem em paz.

Segundo assunto: o golpismo do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, que vazou relatório sigiloso da FAB sobre a compra de aviões para as forças armadas, criando um factóide que a mídia, também golpista, está explorando à exaustão, inclusive com direito a publicação de mentiras nas colunas assinadas, como a última da Eliane Cantanhede. (Não coloco o link aqui porque não acesso esse lixo que é a
Folha de S. Paulo, apenas leio esse jornalismo de esgoto quando suas matérias são destacadas nos blogs que frequento).

Ao colocar Lula contra a parede no caso dessa compra (de passagem, diga-se que o avião sueco preferido pela FAB é apenas um projeto e a transação não prevê transferência de tecnologia para o Brasil), o ministro ajudou os comandantes militares a retaliarem o governo, por causa do Plano Nacional de Direitos Humanos, pois eles são contra a criação daquela comissão que trabalhará na apuração dos crimes dos torturadores durante a ditadura civil-militar.

Sigamos com atenção o desenrolar dessas situações, para termos noção do quanto podem radicalizar no golpismo o ministro, os militares e a mídia.

Terceiro assunto: recebo por e-mail a notícia (clique aqui para ler) de que Cristina Kirchner, presidenta da Argentina, assinou hoje o decreto nº 4/2010, que obriga à abertura dos arquivos relacionados à atuação das forças armadas daquele país durante a ditadura militar que governou o país de 1973 a 1986.

Esse eu coloco aqui só para dar um gostinho de quero-mais, para nos animar a lutar pela mesma coisa aqui no Brasil.

Isso também será difícil, porque haverá a mídia dizendo que é preciso esquecer tudo para se conseguir a paz e a harmonia; haverá o Boris Casoy trovejando que "isso é uma vergonha" e haverá o mesmo ministro Jobim dizendo que é "revanchismo".

Li na Carta Maior uma carta aberta de Alípio Freire ao Secretário de Direitos Humanos Paulo Vanucchi, na qual ele define o que seria revanchismo:

"seria pretender que os acusados (diretos ou indiretos) de crimes de tortura fossem seqüestrados, levados para cárceres clandestinos onde permaneceriam desaparecidos durante o tempo que melhor aprouvesse aos seus seqüestradores; onde seriam interrogados sob as mais aviltantes torturas; e, depois, aqueles que sobrevivessem aos meses de incomunicabilidade e sevícias, que sobrevivessem ao chamado 'terror dos porões', fossem submetidos à farsa burlesca do julgamento nos tribunais de guerra."

Estão aí os assuntos. Reflexões sobre eles serão bem recebidas, para que este deixe de ser o blog mais estranho da web, em que há leitores mas quase não há comentários sobre os textos aqui postados.

Para refrigerar o clima um pouco, depois de assuntos tão pesados, fiquem com uma bela foto de namorados:


Brisbane, Austrália, outubro/2009

Um comentário:

Luciana disse...

Parabens por soltar o grito da garganta. Eu nunca conheci um Chileno, por exemplo, que não falasse abertamente dos tempos de ditadura no pais, suas consequencias pra tantas familias e as investigações feitas hoje. Eles sabem de tudo, correm atras da informação e reparação. Realmente falta mais voz e ação no Brasil. Esperemos que tudo isso mude um dia!