Ontem, depois de assistir ao massacre do 3° Plano Nacional de Direitos Humanos pelos telejornais, comecei a refletir sobre a direita brasileira.
O Brasil é um dos poucos países em que as pessoas de direita não gostam de ser denominadas "de direita". Se você disser à DEMo Kátia Abreu que ela é de direita, é um deus-nos-acuda, porque ela se diz "progressista". Se você disser ao PSDemBista Arthur Virgílio que ele é "de direita", leva uma direita no queixo, porque o cara se vê como um "progressista". FHC também rejeita o qualificativo "de direita", por causa de seu passado, mesmo agora que é aliado das piores forças conservadoras do país. José Serra, idem: um é cópia do outro. Até o Boris Casoy, que pertenceu ao Comando de Caça dos Comunistas (CCC)(para saber mais sobre o CCC, vá ao Cloaca News) na época da ditadura empresarial-militar, renega o rótulo "de direita", imaginem!
Naquela época, a gente sabia direitinho quem estava de qual lado: a esquerda e a direita - quem era contra a ditadura e quem era a favor. Havia os que se declaravam "apolíticos", mas geralmente prestavam serviços como dedos-duros, principalmente no meio estudantil e acadêmico. E a gente sabia reconhecer aqueles que, mesmo sendo politicamente conservadores, não compactuavam com os horrores da ditadura.
Com a "redemocratização", as fronteiras entre a esquerda e a direita foram sendo propositalmente diluídas. Chegou-se a apregoar o "fim das ideologias", no auge do neoliberalismo dos anos 90. No Brasil não faltou quem repetisse a tese do falsário Francis Fukuyama, de que não existiam mais a esquerda e a direita. Parecia até que não existiam mais as classes sociais. Parecia até que a luta de classes estava superada, tamanho o grau de falseamento da realidade.
Hoje, o que diferencia esquerda e direita são as práticas. Dentro do próprio governo, que tem um ministério de coalizão das forças mais contraditórias da sociedade, é fácil identificar quem é de esquerda e quem é de direita. Basta ter atenção para as práticas adotadas por uns e outros. Aquele, como Nelson Jobim, que "fabrica crises" com a ajuda da imprensa, por exemplo, de que lado você classificaria? Ou o ministro da agricultura, Reinhold Stefanes, que apregoa seu descontentamento para a imprensa, em vez de se dirigir ao presidente, como representante ativo do grande agronegócio, de que lado está? De que lado está o ministro Paulo Vanucchi, que enfrenta o bombardeio do 3° PNDH?
Não sou daquelas pessoas que vê a sociedade dividida entre o bem e o mal, como se a esquerda fosse só de bonzinhos e a direita só de malvados. Sei distinguir nomes tradicionais da esquerda que, de repente, fecham acordos espúrios com os representantes do grande capital, como foi o caso do ex-prefeito de Belo Horizonte, em sua aliança com Aécio Neves para eleger o atual prefeito. E a aliança continua, para as eleições a governador em 2010. E o que dizer do Zé Dirceu, então?
Como se vê, ser de esquerda ou de direita não se resume a posições que assumimos no jogo partidário. Cansei de ver membros do PSOL, que se diz da extrema-esquerda, de braços dados com a direita, na CPI mista dos Correios. Ou alguém pensa que Heloísa Helena não fez o jogo de Agripino Maia e Arthur Virgílio, num oposicionismo irresponsável? A verdade é que, no jogo da política partidária, até quem é de esquerda "escorrega" e acaba caindo no colo da direita. Porque a política institucionalizada, criação da democracia burguesa, é pensada para isso mesmo: esvaziar o componente político do confronto entre as forças sociais representadas no parlamento e no executivo. Isso sem falar no Judiciário, cuja existência se justifica apenas para legitimar o patrimonialismo e perpetuar as estruturas de mando da sociedade, na defesa intransigente da propriedade privada e do grande capital.
Por isso é tão cerrado agora o ataque ao 3° PNDH, mesmo sendo ele um documento que teve origem no governo FHC e sendo resultado de ampla consulta à sociedade, como afirmou Paulo Sérgio Pinheiro, secretário de Direitos Humanos do governo anterior, em entrevista à rádio CBN. (clique aqui para ouvir) Esse bombardeio atingiu seu auge ontem, com o Boris Casoy vociferando no Jornal da Band, respaldado pelo jurista de gôndola Ives Gandra Martins, que "é o mais grave atentado à democracia desde o fim do regime militar". (Veja também a crítica de Azenha à reportagem do jornal da Band)
De todos esses acontecimentos, faço uma inferência: o que caracteriza mais fortemente a atuação da nossa direita, dentro do governo e fora dele, é o golpismo, no tom e na intenção. Isso está nas declarações de Nelson Jobim, Kátia Abreu, Ronaldo Caiado, Arthur Virgílio, Reinhold Stefanes, assim como está na boca e na pena de jornalistas como Boris Casoy, William Waack, Dora Kramer, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor. (Clique aqui para ver foto de alguns desses que se escudam na liberdade de imprensa para instilar seu golpismo.)
É o golpismo que explica por que as pessoas da direita não gostam de ser identificadas como "de direita". São herdeiras diretas da ditadura empresarial-militar, que lhes ensinou a agir na sombra.
Um comentário:
Aqui no RS, pretendia votar no P-Sol na eleição pra governador, mas é um erro a candidata não ser a Luciana Genro, ao invés disso, me vão de Pedro Ruas...
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