Pela primeira vez, eu e Gilson passamos a virada do ano no Rio de Janeiro, famoso em todo o mundo pela festa de fogos de artifício e também pelos shows que promove nas areias claras da belíssima praia de Copacabana.
Chegamos à cidade no dia 28 e tratamos de passear um pouco antes da tão esperada festa. Primeiro demos um pulo até Petrópolis e visitamos lugares lindos, museus e a famosa rua Teresa, todinha cheia de lojas. Gilson jura que nós, mulheres, entramos em todas elas, mas vocês sabem como os homens são exagerados quando nos acompanham nas compras...
Impressionante como naquela cidade tudo gira em torno do passado monárquico brasileiro. Fiz questão de visitar minha xará mais famosa:
Andando pela cidade, a gente pode até brincar com os vestígios do passado monárquico. Pensem no padre dentro desse confessionário, deve ter ficado louco com dois agnósticos falando ao mesmo tempo. Reparem na fisionomia de beatitude do João, parece até que se converteu:
Ao final da visita, depois de arrastar pantufas de feltro pelo enorme Museu Imperial, tivemos de fazer um esforço descomunal para não sermos tragados pelo passado, porque ainda faltava percorrer a rua das compras:
O retorno ao Rio foi uma aventura à parte, por causa da rodoviária carioca, que é um mundo caótico, onde é quase impossível conseguir um táxi sem cair nas mãos de algum grupo organizado, que não usa taxímetro, para poder furar o olho do freguês! Ainda bem que fomos salvos por um taxista que tinha ido deixar passageiros, honesto e simpático.
No dia seguinte, já de volta à casa da Priscila e do Elmar, na Gávea, aproveitamos o céu nublado e a garoa intermitente para dar uma volta pelo Jardim Botânico. Acreditem, foi bom demais! Aquilo lá é lindo mesmo! Não é à-toa que o grande Tom Jobim encontrava ali inspiração para compor:
Há recantos deliciosos de se ver e estar, como o lago das vitórias-régias:
E flores lindas para a gente fotografar:
No sábado descansamos o dia todo, guardando-nos para a festa da virada de ano. Pernas para cima, TV ligada, estripulias do Baco - o cãozinho da Priscila e do Elmar - e preparação de uma lasanha que ficou nos esperando em casa.
A parte engraçada foi que nos aprontamos para a festa, encaramos a chuva e a caminhada que nos levaria à praia. Táxi, nem pensar! Tínhamos de vencer 6 km até Copa. Saímos de casa por volta das 9 horas. Em frente ao clube do Flamengo demos a sorte de conseguir um táxi para um pedacinho do caminho. Ao retomar a caminhada, a gente se juntou a uma multidão vestida de branco, que andava debaixo da chuva sem se importar com ela, todo mundo no mesmo rumo: a praia em frente ao tradicional hotel Copacabana Pálace.
Pois bem. Nessa altura, eu já tinha dúvida sobre se o programa seria bom mesmo ou se estaria embarcando num programa de índio - força de expressão, porque penso que os programas dos índios nas noites de ano novo devem ser uma baita festa! Cheguei a perguntar ao Gilson se ele não pensava a mesma coisa, mas ele estava tranquilo: "A gente veio aqui foi para isso mesmo, né?"
Enfim, desvia daqui, desvia dali, pula uma poça aqui, pula outra ali, molha os pés aqui, escorrega ali... Lá fomos nós, no meio da multidão toda branca. Eu tinha a vaga sensação de estar participando de algum ritual muito antigo e o leve incômodo de não saber bem dar sentido a essa participação. O jeito era, como boa mineira, aproveitar a caminhada para "reparar" os tipos, as roupas, os sapatos, as fisionomias. Sim, porque mineiro não observa: repara.
Enfim chegamos! Praia lotada, mais cheia do que em dia de sol! Todo mundo já no clima da festa: muita alegria, bebidas e... chuva, chuva!
Sem dificuldade, alugamos quatro cadeiras e um guarda-sol e nos alojamos na areia, com nossos guardachuvas também abertos, porque a chuva estava insistente. Ficamos ali sentados, reparando tudo, conversando e tomando caipirinha - só Madá e eu. E a muvuca só aumentando. Quando foi chegando a hora dos fogos, o povo foi se juntando mais e quase que o espetáculo começa sem o Gilson, que tinha ido ao banheiro. Mal chegou aonde estávamos, iniciou-se a música e os foguetes pipocaram. Naquela hora, debaixo da chuva mesmo, tive a certeza de que tudo valeu a pena. Até filmei os momentos iniciais, que foram os mais lindos:
Foi lindo mesmo! E toda essa lindeza que coroou a chegada do nosso ano novo teve alguns momentos pitorescos, que nos fizeram rir até doer as bochechas. Como quando a Madá entrou em um boteco copo-sujo e pagou R$ 2 para usar o banheiro lá no fundo, entulhado de engradados e garrafas vazias; ou como quando, na volta para casa, ao aparecer um táxi que cobrava R$ 30 para nos levar até a Gávea - já estávamos na metade do caminho -, ao serem perguntados se pagariam, todos responderam em coro: "Claro!!!" Acho que todos estavam pensando naquela lasanha, que nos esperava no forno...
Assim foi nossa estada no Rio. Praia com sol, só no último dia. Aproveitamos os dias de chuva para passear no centro antigo da cidade, com direito a almoço na Confeitaria Colombo, num dia,
e no Bar Luiz, no outro.
A gente se divertiu muito, enquanto vivenciava um pouco do cotidiano do povo carioca. E foi bom aproveitar esses momentos junto com pessoas com as quais temos afinidades, como é o caso do João e da Madá. Valeu!
Em tempo: O Rio de Janeiro continua LINDO!!!
4 comentários:
Muito bom!!!
Faltou mencionar o loft do Santos Dumont em Petropolis, projetado há um século é de causar inveja aos arquitetos de hoje: funcionalidade e criatividade não faltam. Móveis planejados muito antes de se falar nisto. Não faltam invenções, além da famosa escada, um chuveiro aquecido a alcool com um curioso mecanismo de mistura de água quente e fria.
Oi Bel, Adoramos ler sobre seu passeio. Nô gostou dos votos, principalmente sobre os bichos. Eu Clarice e Adriana, das risadas de doer as bochechas.
Ah! Clarice fez outro blog, não é por nada não, mas acho que puxou a tia. http://abeladesadormecida.blogspot.com/
Saudades, Cassia
Foi uma viagem bem produtiva do ponto de vista cultural, Bel. Acho que mesmo que a gente não queira, termina sendo um banho de conhecimento sobre outras formas de viver. Os contratempos são fundamentais e sem eles, não teríamos motivos pra rir depois. Nasci no Rio de Janeiro, mas vim para Brasília ainda muito criança, portanto não pratico, infelizmente, a arte da carioquice contumaz. Nas visitas que faço à cidade, confesso que algumas vezes sinto uma boa dose de estranhamento. Brasília é em muitos sentidos, uma urbe com talento para a assepsia. O Rio de Janeiro, ao contrário, é pura contradição, onde os opostos saltam aos olhos, sem a menor cerimônia e é claro que esse detalhe faz toda a diferença, num país como o Brasil. As contradições, principalmente as sociais, ainda são características muito presentes em todas as capitais do país. Os motoristas de taxi, fazem um capítulo à parte, Bel Brunacci. É preciso treinar exaustivamente o sotaque carioca pra não cair em armadilhas criadas há décadas. Ainda assim é provável que ao primeiro "bom dia", sejamos logo desmascarados. O Rio de Janeiro é assim, uma cidade que todos os brasileiros deveriam conhecer, para que possam absorver uma outra brasilidade, ainda mais difícil de ser explicada e compreendida, mas igualmente maravilhosa. Tudo isso faz com que o Rio continue lindo. Indiscutivelmente lindo.
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