É desalentador, mas não surpreendente, o desenrolar da crise política do Distrito Federal.
As últimas notícias dão conta de que a base aliada do governador Arruda se articula para garantir maioria nas comissões da Câmara Legislativa do DF. A renúncia do presidente (im)Prudente foi mais uma manobra para impedir que a presidência fosse assumida pelo vice, que é de oposição ao governo. O DEM emplacou Geraldo Naves na CPI da Codeplan, crucial para investigar as atividades da quadrilha instalada no governo. O distrital cotado para assumir a presidência já deu entrevista à TV dizendo que fará tudo sem pressa, estritamente dentro dos prazos regimentais - leia-se: devagarinho, para não dar tempo de apurar e punir culpados. Enquanto isso, apoiadores de Arruda aglomeravam-se em frente ao prédio da CLDF, levados por ônibus não identificados.
(Já pararam para pensar por que os vereadores daqui se autodenominam pomposamente de "deputados distritais"? De verdade, mesmo, são só vereadores; basta ver as leis que aprovam!)
São as máfias agindo. O objetivo é garantir mais impunidade. Aguardemos o término desta semana para ver como fica o quadro.
Desalentador, mas não surpreendente, eu disse. Quem conhece a cultura predominante em Brasília não se surpreende com o desenrolar dos fatos. Nesta cidade, a lei vale apenas para os que não são amigos do rei, desde sempre. Antigamente, era comum ouvir, em uma situação corriqueira: "Você sabe com quem está falando?" Eu já tive que ouvir até: "Você sabe com a filha de quem você está falando?"
Em Brasília, todos os postos de gasolina praticam os mesmos preços. E não há ministério público que consiga provar existência de cartel. Há muitos "puxadinhos" e quiosques para invasão de área pública, tanto nos bairros nobres quanto nas cidades-satélites, mas não aparece uma fiscalização que notifique os invasores. Há áreas privatizadas por cercas às margens do lago Paranoá, desde sempre. Figurões dos três poderes locais, e mais outros tantos servidores anônimos que se locupletam em esquemas nos poderes da esfera federal, apropriam-se despudoradamente dos espaços públicos. (Onde anda Agaciel Maia?... Sumiu dos jornais.)
É a cidade das carteiradas, das "autoridades".
Não digo que não haja em Brasília cidadãos honestos, porque os há, em grande número. Mas muitos desses cidadãos honestos tem lá seu receio de se meter em briga de cachorro grande, de exigir a apuração e o fim da roubalheira. Talvez morem em condomínios irregulares e aguardem a regularização, pensando que para isso dependem dos políticos locais; talvez sejam trabalhadores terceirizados e temam por seus empregos; talvez sejam de grupos religiosos e pensem que tem de proteger os de sua religião, mesmo que eles façam a famigerada "oração da propina", para que sejam também protegidos em caso de necessidade.
Esse lado, como vocês veem, não é exclusividade de Brasília. Em muitas outras cidades os cidadãos honestos são premidos pelas necessidades a apoiarem um ou outro grupo político ou religioso (os dois, para mim, são a mesma coisa). É a luta pela sobrevivência, em alguns casos. Mas em outros é puro oportunismo mesmo.
Em Brasília, como no resto do Brasil, há uma imprensa que só noticia o que lhe desagrada se os fatos saltarem descaradamente sobre a realidade. Eu já disse aqui que o Correio Braziliense transformou Arruda e Paulo Octávio, os cabeças do velho esquema, junto com Roriz, em ectoplasmas, cujos nomes só aparecem nas matérias para realçar qualidades como discrição, perseverança, capacidade de articulação... É o jornal operando a desconstrução do real e apostando no ilusionismo barato.
Um comentário:
Transcrevo duas notas publicadas hoje (Blog do Noblat e Coluna Brasilia - DF do Correio Braziliense) que indicam que a quadrilha do panetone que saqueia o DF tem muito dinheiro escondido.
Blog do Noblat
"O que corre no meio político de Brasília e que jamais será confirmado oficialmente: o esquema disposto a bancar a manutenção no cargo do governador José Roberto Arruda oferece R$ 4 milhões a cada deputado distrital que vote contra o impeachement dele.
Deputados tentados pela oferta exigem o pagamento em dinheiro vivo. E aí mora o principal problema: como entregar várias vezes R$ 4 milhões em espécie? De resto, os envolvidos no esquema do mensalão do DEM se sentem vigiados pela Polícia Federal - e por toda sorte de bisbilhoteiros."
Coluna - Brasília - DF , de Luiz Carlos Azedo com Norma Moura( Correio Braziliense):
"Carrão/ Um dos investigados na Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, aquela do panetone, resolveu deixar o Porsche Carrera em São Paulo para não chamar muita atenção."
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