Penso que não passou despercebido o anúncio de que o PIB brasileiro cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano. Essa informação esteve em todos os jornais escritos e falados no início deste mês (veja aqui, por exemplo).
Dei-me ao trabalho de pesquisar o que é isso e achei uma boa explicação aqui:
Principal indicador da atividade econômica, o PIB - Produto Interno Bruto - exprime o valor da produção realizada dentro das fronteiras geográficas de um país, num determinado período, independentemente da nacionalidade das unidades produtoras. Em outras palavras, o PIB sintetiza o resultado final da atividade produtiva, expressando monetariamente a produção, sem duplicações, de todos os produtores residentes nos limites da nação avaliada. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de mercado. A produção da economia informal não é computada no cálculo do PIB nacional.
Então. Alvíssaras! Bom para o Brasil, não? Resultado dos estímulos ao aquecimento da economia, com criação de mais empregos, aumento da produção e do consumo etc. Toda essa produção circula por aí, uma parte dentro do país, outra parte destinada à exportação. Bom, bom mesmo, não é?
Pois bem. Mas eu leio por aí que uma carreta carregando bobinas de aço tombou sobre dois carros e matou NOVE pessoas! Nove pessoas! Adivinhem onde... Na já conhecida "rodovia da morte", a BR 381, em Minas Gerais. Para variar, o acidente ocorreu nas curvas próximas a Caeté, cidade que já perdeu muitos de seus filhos em acidentes naquela estrada. Veja a matéria aqui.
Abundam por aí as notícias sobre acidentes gravíssimos envolvendo caminhões e carretas. Veja algumas aqui, aqui e aqui. E isso se dá no Brasil todo, tornando as rodovias superperigosas. Quem viaja por nossas estradas pode observar todo tipo de caminhão e carreta circulando. Tem aqueles que são novos e modernos, mas também existem os antigos, velhos, muito usados e em péssimas condições de conservação.
Uma vez andávamos pela BR 381 e nos chamou a atenção um caminhão carregado de carvão. Estava com a carga muito alta e visivelmente desequilibrada para o lado direito. Estávamos atrás dele e tratamos de nos distanciar, para não correr o risco de que a carga caísse na estrada bem na nossa frente.
Eu já discuti neste blog o problema da BR 381, que mata mais do que qualquer outra rodovia brasileira e corre paralela a uma ferrovia, concedida graciosamente à Vale do Rio Doce para transportar seu minério. Subutilizada, quando poderia ser compartilhada para transporte de outras cargas, aliviando assim a estrada e contribuindo para diminuir os acidentes em que se envolvem caminhões e carretas.
Mas é preciso parar para refletir: em que momento da nossa história o Brasil abriu mão de uma malha ferroviária para transporte de carga? Até que ponto o lobby dos fabricantes de caminhões é influente nessa decisão? E a indústria do frete, tem participação nesse lobby? Como são as condições de trabalho dos motoristas de caminhões e carretas? É verdade que trabalham permanentemente pressionados por curtíssimos prazos de entrega?
Tudo isso e alguna cosita más deve ser objeto de reflexão e de impulso de alguma ação concreta que tenha por objetivo fortalecer o transporte ferroviário e ajudar a tornar nossas estradas menos perigosas e mais bem conservadas.
Festejemos o crescimento do PIB brasileiro, mas sem esquecer os homens, mulheres e crianças que morrem todos os anos nas estradas que o transportam.
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