terça-feira, 20 de abril de 2010

Os meninos de Luziânia

No meu sossego, ouvindo Zeca Baleiro - um dos meus preferidos na MPB hoje - não consigo deixar de pensar nos meninos de Luziânia...

[De você sei quase nada
Pra onde vai ou por que veio...]


Flávio Augusto Fernandes, 14 anos; Paulo Vitor de Azevedo Lima, 16 anos; Márcio Luiz Souza Lopes, 19; Diego Alves Rodrigues, 13 anos; Divino Luiz Lopes, 16 anos; George Rabelo dos Santos, 17 anos

Olho para cada um desses rostos e penso que futuro lhe estaria reservado, que expectativas teria para sua vida, que tristezas enfrentaria, que alegrias o fariam rir, que imenso era o amor que tinha pela família, que curiosidades levava para a escola, que sonhos alimentavam sua alma, que dores o fariam sofrer...

[Céu azul, rio anil, dorme a serpente...]

Capturo e tento decifrar cada um desses olhares. Eles deviam me dizer que promessas lhes foram feitas, que palavras os seduziram, que gestos lhes desarmaram os espíritos. Que canto de sereia jorrou da psicopata garganta?

[O meu boy morreu, que será de mim?...]

A polícia de Luziânia... ah! a polícia! Mero pau-porrete-cassetete-instrumento da Justiça de classe. Investigar o quê? Meninos sumidos, escafedidos, liquefeitos, desintegrados? Investigar pra quê? Ocupada demais em proteger as cercas, as casas, os jardins, o latifúndio, a propriedade privada, os direitos dos ricos...

[não vi ninguém abrir a boca
mas ouvi o grito...]

Meninos pobres não tem vez, meninos pobres não tem voz, chama a Federal! Só a Federal foi capaz de ver quem lhes roubou a vez de viver, a voz de gritar, o olhar de futuro. Porque no oligárquico goiás a polícia não vê, não ouve, não fala: oprime, reprime, suprime!

[não se move uma montanha
por um pálido pedido...]

Trágicas mortes, de quem buscava acreditar... sabe-se lá em quê! E a incompetente tutela deixa que se mate o matador: morte matada by himself? Não se sabe, não se saberá. O território da morte é confortável demais.

[É perigoso viver sim senhor
Tem espinho e tem flor]

Adeus, meninos.

[De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho]