sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Qual é a lógica, Agnelo?

Acompanho a formação do secretariado do futuro governador de Brasília, Agnelo Queiroz, com algum interesse e, também, alguma decepção. Penso que em toda indicação deve haver uma lógica, que sempre procuro entender, embora nem sempre concorde com ela.

Assim, entendo a indicação de nomes do PMDB para certos cargos. Em Brasília, todo mundo sabe quem é honesto e quem não é, no trato com a coisa pública. É possível até prever que nomes se envolverão em escândalos de denúncias, no caso dos peemedebistas escolhidos para compor o secretariado.

Como o leque das alianças foi muito amplo - desnecessariamente, a meu ver, porque era previsível que Roriz ficaria inelegível sem tempo suficiente para construir um substituto -, o futuro governador agora trata de contemplar todos os partidos que o apoiaram na campanha. Nada mais justo, desde que todos os integrantes sejam avaliados no primeiro ano de mandato e, caso não estejam à altura dos cargos que ocupam, sejam devidamente defenestrados deles.

Como vemos, leitores e leitoras, toda indicação tem sua lógica. Menos uma, a meu ver: a indicação de um integrante do PPS para o secretariado. Por mais que pense e reflita sobre isso, não consigo atinar com a lógica por trás da iniciativa. Que diabos!

O PPS é um partido que fez parte dos piores governos da história recente do DF. Basta lembrar que Augustus Contasabertas era um dos secretários do cassado Arruda. E que sobre ele pesam acusações de complicada defesa, no âmbito da Operação Caixa de Pandora. No hiato de sua saída do ex-governo Arruda e a nova eleição, os políticos do PPS ficaram sem pai nem mãe. Cães lazarentos que ninguém queria por perto. E não é que correram a se oferecer para compor a coligação que elegeria Agnelo Queiroz?...

Minha surpresa foi eles terem sido aceitos na coligação. Não eram necessários, não traziam contribuição alguma à campanha. Pelo contrário, a presença deles comprometia ainda mais a já fragilizada força ética da coligação. De fato, nem campanha fizeram. Cansei de ver carros de militantes do PPS portando adesivos que pediam votos para Agnelo e... Serra! O partido era de oposição ao governo federal, mas teve candidatos na coligação das forças políticas que combatia. Impressionante! Alguém me explica essa lógica?

Agora me surpreendo com a indicação de um deles para secretário. O outro, felizmente, não se elegeu, mas eu não me surpreenderei se voltar ao trato com a coisa pública pelas mãos do futuro secretário. E eu gostaria de alertar Agnelo para a bobagem que está fazendo: colocar esse pessoal no seu governo é trazer a oposição golpista para dentro da máquina pública, deixando-a à vontade para todo tipo de sabotagem, para dizer o mínimo.

Provavelmente Agnelo Queiroz não é leitor deste blog. Minha esperança é que alguém faça chegar a ele estas reflexões, de modo a saber que, para além das costuras políticas que o ocupam neste momento, há pessoas que esperam muito de seu governo, principalmente pela promessa ética que sua eleição descortina para o Distrito Federal.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Vai um drops aí?


Perdoem-me os pacientes leitores, mas há períodos em que a gente fica sem tempo para esta prazerosa atividade, porque outros afazeres nos chamam e prendem a atenção. Daí as lacunas entre as postagens, não sem o firme propósito de um dia vir a regularizar esta produção. Quanto mais tempo passa, mais assuntos se acumulam e não resisto a falar pelo menos um pouquinho de cada um. Então, hoje é dia de drops!

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Finalmente pegaram o Gim Argello, confortavelmente instalado na relatoria da comissão de orçamento da Câmara dos Deputados, aprontando a maior lambança com os recursos públicos, de conluio com empresas de fachada, alaranjadas. Demorou, caros leitores! Se as investigações não pararem, serão descobertas coisas do arco da velha: quem viver, verá. Aliás, há outros políticos de Brasília, que também estão confortavelmente na ativa, tranquilamente reeleitos, que merecem uma investigaçãozinha básica. Quem sabe a nossa tão combativa imprensa, sempre vigilante no que é acessório mas relapsa no que é essencial, resolva fazer um pouquinho mais de jornalismo investigativo...

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Por falar em políticos de Brasília, vocês precisam ver - e aqueles que já viram hão de concordar comigo - o quanto esta cidade está abandonada. O mato está mais crescido do que nas áreas de proteção ambiental! Na minha quadra, ontem, tive que ficar de olho para a Laurinha não se afastar de mim durante o passeio, com receio de que ela se perdesse no matagal que viceja sob minhas janelas... Controle de pragas? Não, não há! Varrição de rua e coleta de lixo? Tsc, tsc! Desentupimento das bocas-de-lobo para escoar a água da chuva? Também não! Buracos no asfalto, que se agravam nesta época do ano? Cheiiiinho! Enquanto isso, o governador-tampão Rogério Rosso apressa o envio de projetos, no mínimo, suspeitos para a Câmara Legislativa. Recentemente foi revogado o decreto que obrigava às eleições diretas nas escolas públicas, porque estava na cara que era um jeitinho de acomodar as bases rorizistas nos cargos de diretores, na maior cara-dura! Eita ano que não termina! (Perdoe-me o Zuenir Ventura, mas o ano que não terminou não foi apenas 1968, para o bem e para o mal...)
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Isso sem falar na proliferação das cracolândias. A população está abandonada, sem política de saúde pública, de moradia, de transporte, de educação. A escalada das drogas é visível, também nas ruas do Plano Piloto, não é mais exclusividade da periferia. Abandono é a palavra para definir Brasília hoje.
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Fico sempre desolada quando alguma escola pública obriga os alunos a participarem daquelas festinhas pseudo-educacionais, mas sempre de cunho religioso. Educação laica. Qualquer dia destes vou escrever sobre esse assunto. Hoje eu soube que um conhecido, temeroso de colocar seu filho em uma escola pública que não respeite a sua não-crença, estará acionando o MP para tentar garantir que não haja abordagem da religião nas escolas. Esta semana vou entrar em contato com ele para oferecer meu apoio nessa solicitação. A polêmica promete ser boa, com aqueles pais que preferem terceirizar o ensino religioso e pensam que a escola é que tem obrigação de fazer isso. É ou não é uma interferência indevida das atividades privadas sobre o espaço público?...
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Lidar com perdas é a coisa mais difícil, né não? Perder a hora, um brinco, uma roupa que não fecha mais, um sapato que quebra o salto, a comida esquecida no fundo da geladeira, a flor que secou porque me esqueci de regar, o dinheiro que caiu do bolso por descuido, o telefone celular esquecido no balcão da farmácia, tudo isso tem conserto, tem remédio, tem jeito, tem superação rápida da frustração. O que não dá é para lidar com a perda de pessoas, seus afetos, seus trejeitos, suas risadas, seus humores, suas brigas, suas mágoas, seus amores. Ai, como dói!
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"Tá relampiando, cadê nenen?
Tá vendendo drops no sinal pra alguém..."
(Lenine)