terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Muito barulho... Nenhum barulho...

Tenho tido muito sobre o que refletir nos últimos dias. Leva um certo tempo para processar o significado dos acontecimentos e, o que é mais importante e urgente, estabelecer os nexos entre eles.

Assim, enquanto fico ensimesmada, a pensar no que pode significar a presença da presidenta no almoço de aniversário da Falha - ops, Folha de São Paulo - o mesmo jornal que publicou uma ficha falsa em que ela era qualificada como terrorista e que denominou "ditabranda" a ditadura que a torturou e manteve presa por três anos -, busco conexões outras que não simplesmente a da capitulação ou do aceno para a convivência civilizada. Sei que há mais do que isso em jogo, por isso penso.


Mas o que me tomou algum tempo - e provavelmente tem algum nexo com esse outro acontecimento mafiomidiático - foi a notícia de que se encerrou finalmente a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada em 2009 para “apurar as causas, condições e responsabilidades relacionadas a desvios e irregularidades verificados em convênios e contratos firmados entre a União e organizações ou entidades de reforma e desenvolvimento agrários, investigar o financiamento clandestino, evasão de recursos para invasão de terras, analisar e diagnosticar a estrutura fundiária agrária brasileira e, em especial, a promoção e execução da reforma agrária”.


Será que meus pacientes 32 seguidores e esparsos leitores se lembram disso? Saiu em todos os jornalões e jornalecos, em todos os noticiários de TV nacionais e locais, em todos os sites e portais de internet, em um processo infindável de repercussão de uma notícia, até a mais completa exaustão. Foi logo depois da também superexplorada notícia dos atos de vandalismo do MST contra a fazenda da Citrosuco-Cutrale, em que se informavam quebras de maquinário agrícola, derrubada de plantação de laranjas, invasão e destruição de laboratórios - tudo isso em uma fazenda privada do grande agronegócio, que funciona sobre terras griladas da União...

Na época, teve gente de esquerda comentando comigo: "Poxa, assim fica difícil defender o MST! Desta vez eles exageraram!" Parece que, por conveniência, as pessoas "esquecem" que o noticiário é todo fabricado para criminalizar os movimentos sociais no Brasil e que a mídia deste país é toda comprometida com os interesses dos poderosos. No episódio em questão, com os grandes empresários do agronegócio.

Depois desse episódio, muitas pessoas auto-intituladas "de esquerda" perderam a coragem para continuar defendendo publicamente os movimentos de luta no campo - é preciso lembrar que o MST não é o único, há outros igualmente merecedores da nossa solidariedade.

Pois bem. Duas notícias surgiram somente em 2011, a respeito daqueles dois episódios (a invasão da fazenda da Citrosuco-Cutrale e a instalação da CPMI do MST): a primeira dizia que a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo determinara o arquivamento do processo criminal contra o MST, por falta de substância jurídica para seu prosseguimento, ou seja, por falta de tipificação de crime durante o ocorrido; a segunda informava o melancólico final da referida CPMI, que, criada em ano pré-eleitoral para ser usada como munição pelo candidato da direita, fora finalizada sem proceder sequer à leitura do relatório final e sem discutir qualquer medida a ser encaminhada pelo Congresso Nacional ao poder judiciário. Simplesmente morreu...

Agora, digam-me: cadê a grande mafiomídia com seus noticiários? Cadê o estardalhaço de 2009, que criminalizava acintosamente o MST? Cadê os colunistas de pena paga para desmoralizar os movimentos sociais? Re-lo-ou!!! Cadê todo mundo? Cadê a Kátia, o Ônyx, o Caiado, cadê todos os difamadores dos trabalhadores do campo? Fabricando novas manchetes resultantes de velhas e manjadas práticas?


É isso, leitores! Assim é a máfia midiática, aqui e alhures. Por isso continuo ensimesmada, a pensar na presidenta e no almoço da Falha, ops!, Folha de São Paulo...