quarta-feira, 2 de março de 2011

De que lado...?

São cada vez mais raras as pessoas que explicitam de peito aberto suas ideias. Quando alguma afirmação gera polêmica, parece instalar-se uma súbita desconfiança e a discussão passa a ser feita por meio de insinuações, indiretas, meias-verdades, não-ditos.

Tenho presenciado isso com muita frequência nas redes sociais de que participo. Algumas pessoas não hesitam em expor preferências como fruidoras da arte, da culinária, da leitura, da televisão, da cultura popular e até do sexo. Mas quando o assunto prevê posicionamento político, aparecem as negaças e a imprecisão. Noto que, predominantemente, os jovens de classe média, até a faixa dos 35 anos, são os que mais se negam ao debate.

Pois então. Tenho convivido, nas minhas andanças pelos movimentos sociais, também com jovens das populações excluídas e noto neles grande e profunda diferença de atitudes diante da vida. Seja na periferia das grandes cidades, seja nos espaços do campo, o que vejo é um contingente de batalhadores que perseguem incansavelmente um ideal, que pode ser tão-somente um padrão de vida melhor, com acesso a emprego, renda e bens de consumo; como pode ser também uma sociedade melhor, com justiça e igualdade de oportunidades. Tenho visto e o fato de poder ver me ajuda a entender recente pesquisa, publicada pelo Ministério da Justiça/Fundação Sangari, denominada "Mapa da Violência 2011 - Os jovens do Brasil".

Não há como não se chocar com os dados. O maior número de vítimas de homicídios no Brasil são jovens negros entre 15 e 24 anos! No link acima você encontra todas as tabelas com o resultado detalhado da pesquisa, por estados e municípios com maior concentração de mortalidade. Alagoas está em primeiro lugar, com seus eficientes grupos de extermínio. Em quarto lugar está o rico Distrito Federal.

O quadro nacional, no quesito "violência e juventude", é desalentador. Dá ao Brasil o 6º lugar no nefasto ranking internacional. E o mais grave: isso são números de genocídio. Um genocídio tanto mais consentido quanto mais nos omitimos.


É possível viver placidamente, sem se deixar afetar por informações como essas? É possível ficar com a consciência tranquila, assumir o ar blasé de quem não tem nada a ver com isso, de não-fui-eu-que-criei-essa-situação? É possível denominar "civilização" esse estado de coisas? É possível não se indignar?...

O lado mais frágil dessa briga - que nós, jurássicos assumidos, chamamos "luta de classes" - sempre foram os mais pobres. Os grupos de extermínio, geralmente braços clandestinos das polícias - e das políticas locais -, agem com o aval daqueles que querem um mundo sem pobres, não um mundo sem pobreza. Maceió está aí para confirmar isso: não passa uma noite sem que pelo menos um morador de rua seja executado.

Queiramos ou não, este é apenas mais um modelo de "civilização" que o homem criou desde que começou a se agrupar na Terra. E, pelo visto, mais um modelo de civilização que descambou em barbárie. A pergunta é: o que virá depois? Que mundo iremos legar para as próximas gerações?

Com a palavra, os milhões de jovens pobres - negros, brancos ou índios - historicamente marginalizados neste país.