sábado, 16 de janeiro de 2010

Dois filmes infantis.

Esta semana Sofia e eu assistimos a dois filmes: A princesa e o sapo e Alvin e os esquilos 2. Ambos tratam do tema "humanização", mas são essencialmente diferentes.

A princesa e o sapo nos remete aos bons filmes de animação dos estúdios Disney. Alia os desenhos animados feitos a mão com a moderna tecnologia digital para produzir um belo filme, que subverte, embora ainda timidamente, a tradição dos filmes da Disney. A princesa protagonista na verdade não é princesa, é uma garçonete que labuta dia e noite para realizar um sonho que herdou do pai: abrir um restaurante. O príncipe, na verdade, é um pobretão que tem apenas o título, mas não tem o reino. Ambos são negros, eis aí uma novidade. A história se passa em Nova Orleans e é permeada com uma produção musical jazzística de primeira qualidade. Alguns personagens são absolutamente sedutores, como o vagalume e o crocodilo trumpetista.



Alvin e os esquilos 2 parece ser continuidade do primeiro (devo confessar que Sofia me poupou de assistir ao 1), pois repete os personagens centrais da trama: o "proprietário" de três esquilos cantores, o vilão que os perseguia e, além deles, introduz as "esquiletes", três esquilinhas também cantoras. A novidade é que os três esquilos vão para a escola; não fica claro, mas parece que se trata de uma típica high school americana, com todos os ingredientes daquele padrão medíocre dos filmes de adolescentes gringos: bulling, violência, preconceito, competição. A qualidade técnica do filme é sofrível: os esquilos tem péssima dicção, os cortes não são nem um pouco sutis e o roteiro tem incoerências flagrantes. Isso sem falar na péssima qualidade da música pop, tanto dos esquilos quanto das esquiletes.


O processo de humanização sequer existe em
Alvin e os esquilos 2: a narrativa parte do pressuposto de que esquilos e esquilas já são humanos, em sua essência. É como se os bichos substituíssem, com toda a naturalidade, crianças que vivem aquelas aventuras. Em suma: humaniza-se forçadamente o animal e disso resulta uma baita incoerência interna na narrativa cinematográfica.

Em
A princesa e o sapo, temos o contrário: a mocinha beija o sapo que era príncipe, graças ao feitiço de um santero caribenho, que o substitui por um velhote transformado em príncipe pelo mesmo feitiço. Esse feiticeiro é também um personagem impagável, que vale a pena ver. Em vez de o príncipe voltar a ser humano, é a mocinha que se transforma em sapo. Os dois vivem aventuras inacreditáveis, correndo contra o tempo para recuperarem a forma humana e poderem viver os sonhos que sonharam juntos. Mas o tempo é implacável e frustra todas as chances que eles tem de retomarem suas vidas. Só quando os dois sapinhos desistem de voltar à forma humana é que se tornam novamente humanos e dessas aventuras emerge um casal novo, com novos valores e disposto a ser feliz.

Edificante, não?
A princesa e o sapo tem o mérito de mostrar a difícil vida dos negros nos EUA - o príncipe escapava do destino de milhares de negros americanos porque vinha de um reino distante, provavelmente da África. Mas não espere muitos questionamentos da realidade, porque não os há. Assim como não os há em Alvin e os esquilos 2, que se limita a reproduzir servilmente os padrões de consumo do americano médio, sua alienação e desinformação.

Na próxima semana iremos assistir a
Onde moram os monstros e Astroboy. Depois compartilho aqui mais impressões de avó cinéfila.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Aqui também tem drops!

Neste janeiro, tenho dedicado um pouco do meu tempo a curtir as férias da Sofia. A gente vai ao cinema, às terças e quintas. Depois da sessão, lanche, sorvete e visita a alguma livraria. Ser avó me revigora, faz com que me sinta mais viva. Sofia e Laura me fazem rir, me intrigam, me questionam. E me dão muito amor, incondicionalmente, sem exigir nada em troca, a não ser carinho...

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Pensaram que chegaria hoje ao fim o massacre midiático do 3° PNDH, após a reunião de Lula com Jobim e Vanucchi?... Que nada! A mídia já achou outro artigo para ser o cristo da hora: trata-se de uma tímida tentativa de acompanhar como os meios de comunicação (des)respeitam os direitos humanos. Já virou atentado à liberdade de expressão, com a cara sorridente do Ives Gandra Martins dizendo que é uma medida ditatorial. Ai, que preguiça que dá, assistir aos telejornais da noite!...

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Tem dia que estou desanimada... Ontem, ao ouvir de minha filha seu desejo de que suas filhas "tenham o respaldo do estado para serem livres com responsabilidade" (indignada com o bombardeio do 3° PNDH), quase respondi: "- Ih!!! vai ter que se mudar!" Só não falei nada porque não quero que vão para longe, mas que está difícil ser cidadão aqui, ah, isso tá!...

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Bem, eu desanimo, mas não esmoreço. Voltei a nadar: hoje cheguei à marca dos mil metros em 40 minutos.

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Este blog começou como um diário de viagem, com fotos e tudo mais. Depois se tornou o que é hoje e parece que começou a agradar, embora receba poucos comentários. Isso me intriga. Por que meus 19 seguidores mais um número indeterminado de leitores não se sentem à vontade para postar comentários? Será que o leiaute é pouco amigável? Será que concordam com tudo que escrevo? Ou pensam que não publicarei os comentários contrários? Será que devo mudar as configurações, o jeito de escrever, a linguagem que uso? São perguntas que não querem calar...

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E os arranjos dos deputados distritais com o rei Arruda, hem? Vocês viram? Todas, mas to-di-nhas mesmo, as comissões que vão apurar as denúncias contra o grande corrupto são controladas pelos coleguinhas de corrupção. Já viram coisa mais bizarra? E depois dizem que Brasília não dá folclore político!...

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Tristes demais as notícias do terremoto no Haiti, com milhares de mortos, brasileiros entre eles. E a tão querida Zilda Arns! É o que digo: morrer gente boníssima é fácil, já uns corruptos e ladrões que andam livres por aí, nem tsunami os pega!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O que é a direita no Brasil?

Ontem, depois de assistir ao massacre do 3° Plano Nacional de Direitos Humanos pelos telejornais, comecei a refletir sobre a direita brasileira.

O Brasil é um dos poucos países em que as pessoas de direita não gostam de ser denominadas "de direita". Se você disser à DEMo Kátia Abreu que ela é de direita, é um deus-nos-acuda, porque ela se diz "progressista". Se você disser ao PSDemBista Arthur Virgílio que ele é "de direita", leva uma direita no queixo, porque o cara se vê como um "progressista". FHC também rejeita o qualificativo "de direita", por causa de seu passado, mesmo agora que é aliado das piores forças conservadoras do país. José Serra, idem: um é cópia do outro. Até o Boris Casoy, que pertenceu ao Comando de Caça dos Comunistas (CCC)(para saber mais sobre o CCC, vá ao Cloaca News) na época da ditadura empresarial-militar, renega o rótulo "de direita", imaginem!

Naquela época, a gente sabia direitinho quem estava de qual lado: a esquerda e a direita - quem era contra a ditadura e quem era a favor. Havia os que se declaravam "apolíticos", mas geralmente prestavam serviços como dedos-duros, principalmente no meio estudantil e acadêmico. E a gente sabia reconhecer aqueles que, mesmo sendo politicamente conservadores, não compactuavam com os horrores da ditadura.

Com a "redemocratização", as fronteiras entre a esquerda e a direita foram sendo propositalmente diluídas. Chegou-se a apregoar o "fim das ideologias", no auge do neoliberalismo dos anos 90. No Brasil não faltou quem repetisse a tese do falsário Francis Fukuyama, de que não existiam mais a esquerda e a direita. Parecia até que não existiam mais as classes sociais. Parecia até que a luta de classes estava superada, tamanho o grau de falseamento da realidade.

Hoje, o que diferencia esquerda e direita são as práticas. Dentro do próprio governo, que tem um ministério de coalizão das forças mais contraditórias da sociedade, é fácil identificar quem é de esquerda e quem é de direita. Basta ter atenção para as práticas adotadas por uns e outros. Aquele, como Nelson Jobim, que "fabrica crises" com a ajuda da imprensa, por exemplo, de que lado você classificaria? Ou o ministro da agricultura, Reinhold Stefanes, que apregoa seu descontentamento para a imprensa, em vez de se dirigir ao presidente, como representante ativo do grande agronegócio, de que lado está? De que lado está o ministro Paulo Vanucchi, que enfrenta o bombardeio do 3° PNDH?

Não sou daquelas pessoas que vê a sociedade dividida entre o bem e o mal, como se a esquerda fosse só de bonzinhos e a direita só de malvados. Sei distinguir nomes tradicionais da esquerda que, de repente, fecham acordos espúrios com os representantes do grande capital, como foi o caso do ex-prefeito de Belo Horizonte, em sua aliança com Aécio Neves para eleger o atual prefeito. E a aliança continua, para as eleições a governador em 2010. E o que dizer do Zé Dirceu, então?

Como se vê, ser de esquerda ou de direita não se resume a posições que assumimos no jogo partidário. Cansei de ver membros do PSOL, que se diz da extrema-esquerda, de braços dados com a direita, na CPI mista dos Correios. Ou alguém pensa que Heloísa Helena não fez o jogo de Agripino Maia e Arthur Virgílio, num oposicionismo irresponsável? A verdade é que, no jogo da política partidária, até quem é de esquerda "escorrega" e acaba caindo no colo da direita. Porque a política institucionalizada, criação da democracia burguesa, é pensada para isso mesmo: esvaziar o componente político do confronto entre as forças sociais representadas no parlamento e no executivo. Isso sem falar no Judiciário, cuja existência se justifica apenas para legitimar o patrimonialismo e perpetuar as estruturas de mando da sociedade, na defesa intransigente da propriedade privada e do grande capital.

Por isso é tão cerrado agora o ataque ao 3° PNDH, mesmo sendo ele um documento que teve origem no governo FHC e sendo resultado de ampla consulta à sociedade, como afirmou Paulo Sérgio Pinheiro, secretário de Direitos Humanos do governo anterior, em entrevista à rádio CBN. (clique aqui para ouvir) Esse bombardeio atingiu seu auge ontem, com o Boris Casoy vociferando no Jornal da Band, respaldado pelo jurista de gôndola Ives Gandra Martins, que "é o mais grave atentado à democracia desde o fim do regime militar". (Veja também a crítica de Azenha à reportagem do jornal da Band)

De todos esses acontecimentos, faço uma inferência: o que caracteriza mais fortemente a atuação da nossa direita, dentro do governo e fora dele, é o golpismo, no tom e na intenção. Isso está nas declarações de Nelson Jobim, Kátia Abreu, Ronaldo Caiado, Arthur Virgílio, Reinhold Stefanes, assim como está na boca e na pena de jornalistas como Boris Casoy, William Waack, Dora Kramer, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor. (Clique aqui para ver foto de alguns desses que se escudam na liberdade de imprensa para instilar seu golpismo.)

É o golpismo que explica por que as pessoas da direita não gostam de ser identificadas como "de direita". São herdeiras diretas da ditadura empresarial-militar, que lhes ensinou a agir na sombra.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Método de campanha eleitoral

Hoje, na manifestação contra a corrupção de Arruda e sua quadrilha no governo do Distrito Federal, havia muita gente.

Os estudantes estavam lá desde a madrugada. E também partidários de Arruda e dos distritais. Houve relatos de conflitos entre os dois grupos.

O carro de som do movimento "Fora Arruda" abrigava os oradores, representantes de diferentes movimentos sociais e tendências políticas do DF, que haviam começado a se pronunciar, quando chegaram muitos ônibus e caminhões carregados de gente. As pessoas desceram em bloco a rua lateral da Câmara e se postaram junto a outro caminhão de som, de um trio elétrico, que tinha também oradores gritando que os estudantes da UnB eram burguesinhos e que os verdadeiros estudantes de Brasília eram aqueles que estavam chegando para apoiar Arruda.

Abriram faixas dizendo "Arruda fica", gritavam palavras de ordem e partiram para a estratégia de fazer muito barulho, para impedir a manifestação. A Polícia Militar fez uma barreira, separando os dois grupos. Havia muita provocação e xingamentos do lado de lá e houve tentativas de romper o cordão de isolamento da PM.

Do lado de cá, continuaram a falar os oradores programados. Entre as falas, as pessoas gritavam "Arruda na Papuda, PO no xilindró" ou cantavam músicas dizendo que os bandidos iam passear algemados no camburão. Notei que havia também pessoas que não são ligadas a sindicatos e nem são estudantes. Estavam lá movidas pela indignação e queriam protestar.

Coloco aqui dois videos da manifestação:






Arruda está usando, para lidar com as manifestações contra ele e sua quadrilha, o mesmo método que aprendeu com Roriz, que é o de obrigar os servidores de cargos comissionados a irem para a rua. Algumas pessoas confidenciaram hoje que era isso: ou iriam para lá ou teriam corte de ponto e poderiam perder os cargos em comissão.

Roriz fazia isso em suas campanhas eleitorais, Arruda também fez, quando apoiado pelo pessoal de Roriz, e continua fazendo. Com mais de 18 mil cargos comissionados, o governo do DF tem muita gente para por na rua, não? E esses servidores vão, alguns por apoiarem com fé o governo e serem também cabos eleitorais, outros por intimidação.

É isso. Vamos continuar acompanhando as manifestações e as estratégias dos corruptos.