domingo, 20 de novembro de 2011

O mundo sem meu pai

Minhas desculpas aos leitores pelo sumiço. Fui pega pela roda da vida e não tive, do dia 4 de setembro para cá, tempo/vontade de escrever. Explico.

Hoje faz um mês que meu pai morreu. E não está sendo nada fácil lidar com isso.

Eu sempre pensei que saberia enfrentar esse momento, pois a morte de alguém querido é sempre um fato previsível quando estamos em idade avançada. Meu pai se foi dez dias antes de completar 93 anos. E estava lúcido e consciente, lutando para não se entregar à fraqueza que insistia em derrubá-lo.

(Foto de Diogo Brunacci)

Mas a sensação de perda é inevitável. O luto pela ausência é doloroso. Hoje eu me flagro pensando em meu pai todos os dias. Quando ele estava vivo e eu tinha certeza de que podia lhe falar a qualquer hora, sua imagem não vinha a todo momento em minha mente. Hoje vem. Não passei um dia sequer sem pensar nele.

Há em mim, permanentemente, vaga sensação de que perdi alguma referência. Isso é meio contraditório, porque meu pai e eu discordávamos em muita coisa. Conversávamos sobre quase tudo e às vezes até brigávamos, mas nunca tivemos raiva um do outro. Um buraco, um vão, um oco foi o que me restou, agora que não o tenho mais aqui.

Nestes dias, tenho vivido situação paradoxal: o vazio que meu pai deixou tem me preenchido mais do que a presença dele, quando vivo. Acho que o luto é isso: é a gente vivenciar a ausência com tanta intensidade que, em um dado momento, essa ausência adquire dimensão de presença, é quando deixa de ser falta para ser "um estar em mim", nas palavras do poeta.

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade)


Assim é: meu pai, Júlio Brunacci, estará sempre nas minhas lembranças, nas imagens que compõem minha memória afetiva, nos traços físicos que dele herdei, na matéria amorosa que constitui minha existência, de minhas filhas, de minhas netas...

Sempre!