segunda-feira, 17 de maio de 2010

De volta pro meu aconchego

Não, este blog não foi desativado. Apenas tive algumas atribulações que me impediram de escrever com a frequência desejada. Junte a elas certa falta de inspiração, provocada pela perplexidade com alguns acontecimentos recentes.

A realidade brasileira supera a ficção. Se lesse em algum romance sobre um país distante cuja grande imprensa se dedica laboriosamente a desconstruir os fatos, em vez de apresentá-los aos leitores, eu encararia tudo como uma narrativa ficcional. Mas não há romance sobre isso. Há, sim, no Brasil, um trabalho concertado e coordenado dos meios de comunicação para distorcer, desqualificar e/ou minimizar tudo que possa contribuir para o aumento da auto-estima dos brasileiros, pelo orgulho de pertencer a um país que pouco a pouco se afirma como nação soberana no cenário internacional.

Por isso, o acordo assinado com o Irã e a Turquia para o controle do enriquecimento de urânio, que acaba por esvaziar a proposta dos EUA de aplicar sanções econômicas ao país islâmico de 75 milhões de habitantes, não passou de um "golpe diplomático" para a mídia nativa. A pergunta mais frequente nos debates televisivos era "o que o Brasil ganha com isso?" A paz internacional - não aquele embuste conhecido como "pax americana" - não significa nada para os barões da imprensa, que ridicularizam o protagonismo do Brasil nesse episódio, na contramão da imprensa internacional. Aqui sim temos o "golpe midiático" da desinformação... Mais um.

* * *

Hoje pela manhã ouvíamos na rádio Câmara um programa de uma série sobre as pessoas portadoras de invisibilidade social. A primeira entrevista foi com uma moradora de rua de Brasília, ex-professora de piano, mulher muito culta e de discurso bem articulado. Anda carregada de livros. Por que está na rua? Pela sucessão de problemas que a levaram a perder tudo que tinha. Define-se como uma migrante, uma andarilha.

Você pensa que apenas mendigos, bêbados e drogaditos vivem nas ruas das cidades brasileiras?
Pois aprendi que há todo tipo de gente, inclusive aquelas pessoas que estão na rua por opção.


Pensando bem, é um direito das pessoas estarem na rua, se esta for sua escolha. Cabe ao poder público prover o apoio necessário a quem vive sem teto: abrigos onde as pessoas possam tomar banho, fazer refeições e tenham pequenos armários para guardarem o pouco que possuem.

Agora voltemos ao uso da expressão "invisibilidade social", que me parece apenas mais um modo de escamotear a questão implícita na existência dessas pessoas. Serão elas invisíveis ou a sociedade é que está cega, não as enxerga? Elas se expõem nas ruas, perambulam, esbarram na gente o tempo todo. Como podemos não vê-las?

* * *

Onde andam James Cameron e Sigourney Weaver, que, por conta do sucesso do filme Avatar, considerado um libelo ecológico pelos jornais brasileiros, andaram dando declarações e fazendo súplicas ao governo brasileiro para que não construa a usina hidrelétrica de Belo Monte?

Sintomaticamente, não vi nenhuma declaração deles sobre o recente desastre ecológico, por derramamento de óleo no mar, ocorrido na costa dos EUA. Aqui no Brasil as declarações dos dois foram repercutidas pelos jornalões e noticiários de TV, com o reforço da candidata verde à presidência da república, Marina Silva. Bem, é assim: no quintal, vale todo tipo de ingerência,
já que o histórico complexo de vira-lata da elite brasileira faz com que essas declarações sejam até valorizadas e usadas para fazer oposição a projetos de investimento no setor de energia elétrica. Já quando o problema é na própria cozinha, o negócio é abafar a fumaça...

3 comentários:

disse...

Foi muito bom esse post, adorei mesmo, entendo a sumida do blog, também estou do meu... hehehe... Quanto a moradora de rua eu conheço um caso parecido em Valadares, perto do serviço da minha mãe tem um cara que fala várias línguas, é culto e tudo mais e por um vicio, o jogo, foi passar a viver na rua e acabou perdendo a sanidade aos poucos... Acho isso um pouco triste e concordo com você sobre as oportunidade que o governo poderia dá a esses moradores de rua e não se preocupam... "Afinal, o negócio é abafar a fumaça" beijooos

LuhDuarte disse...

Foi muito bom esse post, adorei mesmo, entendo a sumida do blog, também estou do meu... hehehe... Quanto a moradora de rua eu conheço um caso parecido em Valadares, perto do serviço da minha mãe tem um cara que fala várias línguas, é culto e tudo mais e por um vicio, o jogo, foi passar a viver na rua e acabou perdendo a sanidade aos poucos... Acho isso um pouco triste e concordo com você sobre as oportunidade que o governo poderia dá a esses moradores de rua e não se preocupam... "Afinal, o negócio é abafar a fumaça" beijooos

Paulo Cezar S. Ventura disse...

É isso aí Bel. A nossa imprensa é uma grande porcaria, sempre do lado da elite. Um beijo.