quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ideias para uma cidade do terceiro milênio (I)

Início da segunda década do terceiro milênio. Tento alinhavar algumas sugestões - nenhuma delas original, suponho - para dar início a uma reflexão sobre Brasília, capital de todos os brasileiros, mas também cidade que abriga uma população trabalhadora, originária de todos os cantos do Brasil.

A meu ver, a hora é de aproveitar a alternância de poder, que afastou os políticos de sempre, aqueles que Mino Carta denominou "vanguarda do atraso", para fazer com que Brasília retome os rumos para ela imaginados por Lúcio Costa, tornando-a uma cidade de fato moderna, funcional, acolhedora, monumental e generosa com seus habitantes.

Está sendo muito interessante acompanhar o levantamento dos estragos deixados pelos que sempre espoliaram o Distrito Federal, condenando-o a um subdesenvolvimento vergonhoso, configurando uma vitrine para o Brasil e para o mundo, que constrange seus habitantes e leva a escala baixíssima a auto-estima de seus cidadãos.

Nossa tão diligente imprensa local, que nunca se preocupou em denunciar falcatruas e desmandos dos governos anteriores, agora se desdobra para divulgar o caos generalizado que toma conta dos serviços públicos. Não me iludo com esses órgãos de comunicação: estão todos desesperados em busca de recuperar as "boquinhas" que perderam com o fim dos (des)governos passados.

Mas vamos às idéias - e conto com os comentários dos tão discretos leitores e dos 31 seguidores deste blog para aprimorá-las e ampliá-las:

1) No que diz respeito à mobilidade urbana:

Imaginem Brasília com eficientes meios de transporte de massa (ônibus, metrô, VLP, VLT), interligando todas as cidades-satélites e o Plano Piloto pelo uso de bilhete único. Sem aquele longo tempo de espera nas paradas e mini-estações, homens e mulheres trabalhadoras poderiam se deslocar mais rapidamente e ter mais tempo para curtirem suas casas, seus filhos...


Imaginem um VLP (veículo leve sobre pneus) como esse aí de cima (Zurique), deslizando pelas avenidas W3, integrando-se com outro VLP que descesse o Eixo Monumental até a Rodoviária do Plano Piloto, de onde partiriam ônibus modernos, limpos e confortáveis para as cidades-satélites, como também linhas de metrô, subterrâneas ou de superfície. E tudo isso a preço baixo, porque subsidiado pelos ricos cofres públicos, já que o desvio/sumiço/malversaçao de recursos deixaria de acontecer!

Por que não utilizar a ferrovia que passa pela Cidade Ocidental, Valparaízo etc também para transporte de passageiros, integrando-a com outros meios que possam distribuir essa população para variados destinos?

Para facilitar ainda mais a mobilidade urbana, com meios de transporte que desestimulem o uso de automóveis - lembrem-se: evitar a "paulistanização" do trânsito é essencial! - imaginem quantas ciclovias poderiam ser construídas nesta cidade, que é uma das mais planas do Brasil! Com certeza, há pessoas que prefeririam ir para o trabalho de bicicleta...

Deve-se estimular os empregadores - empresas e órgãos públicos - a manter espaços adequados para os trabalhadores que se locomovem a pé ou de bicicleta, como vestiários com duchas. Já pensaram?

Nesse caso, deveria também haver maciça campanha de educação dos motoristas de automóveis, para que respeitem o ciclista assim como são respeitados os pedestres que atravessam as ruas nas faixas, orgulho civilizador dos brasilienses. Pode ser que os donos daqueles carros enormes, cópias dos SUV americanos, passem a ser mais educados e parem de arremeter suas rodas contra os ciclistas...


Mas temos de lembrar que mobilidade urbana não diz respeito apenas a trânsito de veículos, né? Vale citar aqui algumas práticas que facilitam a mobilidade também de quem anda a pé, ou ainda, de quem necessita usar bengala, muletas ou cadeiras de rodas. Por exemplo: a manutenção adequada das calçadas, das passagens de pedestres, com a eliminação de degraus, o rebaixamento de meios-fios. Além disso, nas regiões de comércio, o espírito de urbanidade deve ser intolerante com quem invade áreas públicas, construindo "puxadinhos" ou expondo mercadorias ao ar livre.


Fica aí a primeira de uma série de possíveis ideias que, melhoradas e colocadas em prática, poderiam transformar Brasília em uma cidade do terceiro milênio.


3 comentários:

Fernanda Peregrino disse...

Bel,

Realmente, Brasilia precisa de um bom sistema de transporte público. Suas sugestões são muito oportunas. Falta o GDF perceber isso. Há vários sistemas bem sucedidos mundo afora. É só estudá-los e adaptar a nossa realidade.

Como turista que utiliza o sistema de transporte público para me locomover pelas cidades que visito (Nem sei o que é taxi...), me pergunto como os turistas vão se locomover em Brasília em 2014?

Isso me recorda uma vez que salvei um inglês próximo do Palácio da Alvorada, que não tinha como voltar para o setor hoteleiro porque não passava nenhum ônibus por lá... Ele nem acreditou quando ofereci carano para ele até o hotel.

Precisamos urgente de mais linhas de metro e ônibus. E apostar em outras alternativas que não exijam tanto investimentos e tanto tempo de construção, como as ciclovias. O mais importante é interligar tudo isso e criar passes semanais que valham para todos os tipos de transporte e passes turísticos, como os de 48 e 72 horas (isso tem salvi minha vida na viagem...).

Bjs,

Fernanda Peregrino.

Anônimo disse...

Fico estarrecido ao ver que um problema simples de mobilidade, um lapso urbanistico, da idade da cidade (60 anos), não foi resolvido até hoje. Tratam-se das passagens subterrâneas do eixão.Inúmeros pedestres, por ignorância, medo ou para escapar da sujeira, enfrentam diariamente os perigos da travessia no meio dos carros em alta velocidade. Alguns não chegam vivos do outro lado.
Este problema serve para indicar que Brasilia é vista e planejada pela ótica dos proprietários de automóvel.
Sem mudar esta mentalidade planejadora e elitista continuaremos vivendo apenas o sonho de uma cidade para todos que respeita os seus pedestres, ciclistas e passageiros.

Gilson disse...

As estatísticas revelam: pedalar é perigoso. 771 ciclistas brasilienses morreram no trânsito nos últimos 15 anos.