Um deles chama-se Foi apenas um sonho, mas o título em português simplesmente "entrega" o final da história. O original chama-se Revolutionary Road (2008, EUA, Direção: Sam Mendes. Elenco: Kate Winslet, Leonardo di Caprio, Kathy Bates. 119 minutos). É uma adaptação do romance de mesmo nome, de Richard Yates, de 1961.

Trata-se da história de um jovem casal, na década de 50. Era o início do sonho americano, da construção do american way of life, com o avivamento da economia dos EUA e a promessa eufórica de qualidade de vida para todos os americanos. Por qualidade de vida entenda-se uma casa no subúrbio da cidade grande e todos os bens de consumo que a recheiam, para o bem estar da mulher e dos filhos, enquanto o marido passa o dia fora, no trabalho em um dos escritórios do centro.

O vazio e a falta de sentido invadem a relação do casal, inicialmente com a frustração do sonho da mulher de ser atriz de teatro. Depois com a insatisfação do marido com as atividades repetitivas e inócuas da empresa em que trabalha. Como reação a esse vazio, constroem o sonho de vender tudo o que possuem e se mudar para Paris. E vivem intensamente esse sonho, sem perceber que voltaram a ser felizes e passaram a incomodar as pessoas com quem convivem.
Bem. Já perceberam por que o título em português "entrega" o desfecho da história? Mesmo assim vale a pena ver, porque o final é uma bofetada. Imaginem o impacto desse romance, quando foi lançado nos EUA, no auge da euforia com o sonho americano...
Mas, enquanto o romance de Richard Yates fazia a crítica do american way of life lá nos EUA, aqui eram as ações golpistas dos diplomatas e agentes secretos americanos que provocavam altíssimo impacto. Era a época das conspirações para a derrubada dos governos democráticos da América Latina e a instalação de ditaduras militares em todo o continente, que generalizariam as perseguições políticas, a tortura e o assassinato dos opositores.
E é desse contexto histórico que trata o filme de Konstantinos Costa-Gavras, Estado de Sítio, produzido em 1973 e lançado em DVD em 2005 (Etat de Siège. Itália, Alemanha, França. Direção: Costa-Gavras. Elenco: Yves Montand, Jaques Weber, Renato Salvatori e outros. 119 minutos).

É sabido que esse agente era professor de "técnicas de interrogatório" - leia-se tortura - e, antes de ir para Montevidéu, trabalhou para os órgãos de repressão da ditadura empresarial-militar brasileira, em Belo Horizonte, onde, até há pouco tempo, era nome de rua.

Costa-Gavras estava pesquisando a história de um embaixador americano, John Peurifoy, que trabalhara ativamente no golpe de estado que instalou a ditadura grega. No meio das pesquisas, topou com o nome de Dan Mitrione e menções à USAID - United States Agency for the International Development. Resolveu então ir ao Uruguai e, conhecendo a história, achou-a mais interessante para o filme do que a do embaixador americano. O resultado disso é o painel das ações das ditaduras latino-americanas, com destaque para Uruguai e Brasil, que o filme nos oferece.
É preocupante que o tempo esteja passando sem que o Brasil revolva os entulhos do autoritarismo da ditadura empresarial-militar. As novas gerações sequer imaginam o que é viver sob o domínio do terrorismo de estado, como viveram brasileiros, uruguaios, argentinos, chilenos e todos os outros países que sentiram o peso dos tacões dos coturnos. A diferença é que em alguns deles os responsáveis são apontados à luz do dia. Aqui, muitos deles hoje estão aí, com máscaras de democratas.
É preciso não esquecer!
Um comentário:
Oi Bel,
Realmente Revolutionary Road é um ótimo filme, sem considerar as atuações fantásticas do Leonardo e da Kate. Eu gostei muito. E nao sabia desse titulo em portugues... Nao dá pra entender essas traduções que já contam o final do fime...
Obrigada pelas outras dicas de filmes. E faço votos que sua voz ecoe e um dia essas mascaras vergonhosas venham ao chao...
Abraços!
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