domingo, 8 de agosto de 2010

O dia em que São Paulo parou II

Ela está aturdida e apavorada. Não sabe por que está neste lugar. Lembra-se claramente de ter ido dormir e agora... isso? Anda por uma rua de cidade pequena, o dia amanhece. As casas ainda não abriram as janelas, o sol demora um pouco para surgir por inteiro atrás da pequena serra que protege as casinhas coloridas.


Vê outras pessoas vagando como ela, perplexas e confusas. Mas não se lembra de nada, pensa que sonha, belisca-se, tenta acordar. Nada. Socorro não sabe o que aconteceu. Não conhece aquele lugar, não se lembra de nada, não tem sequer um vago dejà vu.

- Deus do céu, o que me aconteceu? Como vim parar aqui?

Olha-se e percebe que está de camisola. Vê a sua volta um rapaz de pijama e outra mulher de camisola. Todos tem o olhar assustado, devem estar pensando o mesmo que Socorro:

- Que lugar é este? O que estou fazendo aqui? Cadê minha kit, minha rua, meu ônibus de todo dia?

Pensa que alguém está brincando com ela, está tendo algum tipo de ilusão ou de pesadelo do qual não consegue acordar. E precisa acordar logo, porque tem de ir para o escritório, não pode se dar o luxo de faltar ao trabalho na avenida brigadeiro, tem de estar lá para passar o dia, como todos os outros, atendendo ao telefone, transferindo ligações. Será que ficou maluca, será que o Eustáquio tem razão quando diz que telefone é máquina de fazer doido?

- Ai, Deus, amaluquei?

O rapaz de pijama chega perto dela e pergunta que cidade é esta e ela, já desesperada, diz que não sabe. E ele:

- Nem eu. Mas o que estamos fazendo aqui?

- E eu sei lá, moço? Eu estava na minha casa ontem e hoje acordei aqui.

- Ora, eu também, senhora. Me diz: onde mora? Como se chama?

- Meu nome é Socorro, moro em São Paulo... No Sacomã... E você?

- Ah, eu sou o Evaldo. Também moro em São Paulo, mas no Cambuci. Não sei como vim parar aqui. A senhora nasceu em São Paulo mesmo?

- Não, eu nasci na Bahia, mas meus pais se mudaram quando eu tinha três meses. É, praticamente, nasci em São Paulo, né? Eu, pelo menos, me considero paulistana, até no sotaque. Meus pais já morreram, não tive irmãos. Moro sozinha. E você?

- Eu também me considero paulistano. Sou filho adotivo, sabe? Minha família é de Pinheiros, meus pais me pegaram para criar com 30 dias de nascido. Tenho dois irmãos, mas eles não foram adotados, só eu.

- E que que você acha que aconteceu com a gente? Por que será que estamos aqui, neste lugar tão estranho?...

- Sei lá, dona, estou é com medo. Será que agora que fiz 18 anos o pai e a mãe se arrependeram de me adotar? Será que resolveram me devolver e ficaram com vergonha de me contar? Ah, não sei o que pensar, não sei como vim parar aqui, de pijama...

- E eu, moço, que ainda tenho de trabalhar, não posso chegar atrasada e não consigo acabar com isso... Já estou ficando desesperada!

- Calma! Vamos fazer o seguinte: bater na porta de uma das casas e pedir informação, saber que cidade é esta... De repente a gente consegue saber o que está acontecendo, né?

E lá se vai o estranho casal rumo às casas coloridas, tentar solucionar o mistério deste dia tão estranho. Quando Socorro e Evaldo começam a andar, são seguidos pelos outros que vagam pela rua, silenciosamente...

(continua...)

Um comentário:

Valéria Barros Nunes disse...

ba-ca-na. Inda bem q não estou aí.