quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Nova pesquisa

Estou começando um novo trabalho de pesquisa, que deve resultar em mais um livro, a ser publicado em 2011, se tudo correr dentro do esperado.

O que me motivou foi uma frase do professor Antônio Olavo, quando entrevistado no documentário
Sobreviventes - Filhos da guerra de canudos, de Paulo Fontenele (veja o trailer aqui):

"- É uma tradição da elite brasileira cortar as cabeças das lideranças populares. Foi assim com Tiradentes, com Zumbi dos Palmares, com Lampião e com Antônio Conselheiro."

Resolvi, então, voltar a ler
Os Sertões, de Euclides da Cunha, e me detive nas numerosas cenas de degola que ele descreve. De homens e mulheres, jovens e velhos.

Foto-símbolo de Antonio Olavo

No caso desse livro, há uma intenção explícita do autor de fazer a denúncia da barbárie que vitimou toda uma população. Canudos era, então, a segunda maior cidade da Bahia, com 25 mil habitantes, atrás apenas da capital.


Há obras literárias em que não há explicitação do desejo de denunciar esse ato bárbaro, mas ele está lá presente. Acontece em romances históricos de Érico Veríssimo, por exemplo.

Por isso resolvi investigar como as obras literárias captam esses momentos da vida social. Eles existem historicamente e, como a literatura está em relação com o chão social em que é produzida, não pode deixar de dar a ver esse processo, mesmo quando o oculta. Esses momentos são formas objetivas da realidade e, como tal, são também componentes da matéria que produz a literatura e é produzida por ela.

Aprendi com o mestre Antonio Candido que pode haver uma linha de continuidade histórica da violência do processo civilizatório brasileiro que é captada pela literatura. Essa violência vai, ao longo dessa linha, mudando de configuração: de tosca e brutal na luta de classes explícita a refinada e subliminar no estágio do capitalismo desenvolvido.

Vou, então, delinear essa linha de continuidade por meio das obras literárias, desde Euclides da Cunha até a década de 70. A degola, mas não apenas ela - também o esquartejamento, o enforcamento - é um ato simbólico, cuja exemplaridade visa a manter o populacho intimidado e domesticado. Cortar a cabeça é eliminar a parcela pensante de um corpo; matar um líder popular é eliminar a "cabeça" de um movimento social.

Se formos estudar as rebeliões e os levantes populares no Brasil, veremos que a repressão pela violência é uma constante. Meu livro será sobre a violência como forma objetiva captada pela literatura e a degola será um dos seus tristes capítulos.

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